área: 26 m²
cliente: lis
equipe: alziro neto, felipe rio branco, júlia carreiro, leonardo carrilho e clara mesquita
obra: M3 Engenharia
fotos: pedro kok e rafael salim
A Cabana Zero é o protótipo de 11 abrigos projetados para um centro de retiro espiritual, fundamentado nos rituais vegetalistas dos povos originários da Amazônia Peruana. Cada retiro dura 9 dias, realizado de forma individual, com privacidade e dietas específicas.
Essas cabanas estão situadas em uma área de mata densa, em uma região montanhosa, a pouco mais de 100 km da cidade do Rio de Janeiro. A principal característica das cabanas é a sua marcante dualidade e complementaridade na relação com a paisagem circundante. Internamente, oferecem um ambiente de introspecção e acolhimento, caracterizado pela madeira natural, enquanto externamente, suas varandas de madeira pintada de preto abstraem o espaço construído, inserindo o ocupante em contato direto e expansivo com a natureza.
A cabana zero foi pensada a partir da floresta, para que eventualmente volte a ser floresta um dia. Uma arquitetura pensada como construção, mas também como ruína.
Toda a madeira utilizada na construção foi reaproveitada de um antigo galpão existente no local. Considerando o difícil acesso ao terreno, a cabana foi planejada como uma estrutura modular de madeira com um sistema de fixação simplificado, minimizando a quantidade de ferramentas necessárias. A estrutura é elevada do solo, reduzindo o impacto na topografia e facilitando o processo construtivo. As amplas aberturas permitem a entrada de luz natural, uma vez que as cabanas não possuem eletricidade, garantindo também ventilação adequada. O conforto térmico é mantido passivamente, com telhas ecológicas que protegem contra a insolação direta e paredes duplas com isolamento térmico.
Cada cabana é composta por um espaço interno, um banheiro seco sem água quente e uma varanda, oferecendo o essencial para o conforto de uma pessoa, sem excessos. As janelas não possuem vidros, para evitar que os ocupantes vejam seus próprios reflexos durante o retiro, promovendo uma experiência mais profunda de imersão. As águas residuais são tratadas ecologicamente, utilizando um sistema de círculo de bananeiras. A vegetação ao redor das cabanas é mantida em seu estado natural, com trilhas cuidadosamente planejadas para permitir o acesso à floresta sem prejudicar o ecossistema.
Este protótipo busca ir além da simples integração entre arquitetura e natureza. Ele propõe uma "arquitetura-natureza", que nos reintegra enquanto espécie ao nosso ambiente original, promovendo uma conexão mais profunda com a terra.